sexta-feira, 2 de maio de 2008

Em Curitiba, pobre só é pobre porque quer ser pobre

Esta merece o Prêmio Nacional da Lógica Magda. Somente um grande beócio para formular uma resposta destas. Sei lá, talvez o assessor que elaborou tamanha estupidez tenha estudado Sociologia, Antropologia e Psicologia com o os Três Patetas, ou nunca estudou patavina alguma.

Primeiro, o sujeito desmente o Ministério do Desenvolvimento Social que diz que Curitiba tem 2.776 moradores de rua. Para a FAS, são somente 1.095. Ou seja, eles existem. Depois diz que o número é o que menos importa. Goebbels também pensava da mesma maneira, uma vida é uma vida; mil, duas mil são apenas algarismos de uma estatística fria, impessoal, sem dramas e que não valem nada: são o zero social, a contabilidade da incompetência dos homens públicos que pode ser jogada debaixo do tapete.

Depois, diz que a própria primeira-dama Fernanda Richa conversou com os moradores de rua e que eles, por conta e risco, disseram que preferem morar na rua mesmo. “Sofrem de desesperança.” Ora, tivesse nosso caro elaborador de respostas imbecis estudado qualquer coisa útil, saberia que a perspectiva de esperança, nestes casos, depende das condições objetivas criadas pelo Poder Público: emprego, educação, saúde, dignidade.

Assim, para a Prefeitura as pessoas são infelizes porque desejam a infelicidade; são desesperançadas porque assim também o desejam; são párias porque a sociedade curitibana tem um lugar para elas, porém não consegue convencê-las que ali, no paraíso da FAS, está a esperança.

Portanto, estas pobres almas só existem para justificar a existência da FAS, pois, se desesperançadas, sem mais vontade de viver, a não ser nas ruas, para que serviriam? Caso nosso inculto respondedor tivesse lido Dante, saberia que só há um lugar em que não existe a esperança - coisa tão cara para o espírito humano -, o Inferno, lugar que não se pode abandonar e no qual, muito menos ainda, se pode desejar uma segunda morte.

Ou seja, as ruas de Curitiba, segundo a lógica apurada de nosso arauto da estupidez, são as caldeiras do Inferno aquecidas pela ignorância de um tapado.

A seguir, apresentamos o canto da Divina Comédia em que Dante se faz acompanhar pelo poeta Virgílio e depara-se com o portal do Inferno.

Canto III

A porta do Inferno

POR MIM SE VAI À CIDADE DOLENTE,
POR MIM SE VAI À ETERNA DOR ,
POR MIM SE VAI À PERDIDA GENTE.

JUSTIÇA MOVEU O MEU ALTO CRIADOR,
QUE ME FEZ COM O DIVINO PODER,
O SABER SUPREMO E O PRIMEIRO AMOR.

ANTES DE MIM COISA ALGUMA FOI CRIADA
EXCETO COISAS ETERNAS, E ETERNA EU DURO.
DEIXAI TODA ESPERANÇA, VÓS QUE ENTRAIS!

Estas palavras estavam escritas em tom escuro, no alto de um portal. Eu, assustado, confidenciei ao meu guia:

- Mestre, estas palavras são muito duras.

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