sexta-feira, 9 de abril de 2010

A pessoa e o músico Ivo do Blindagem


A tribo do Ivo - O Ivo do Blindagem (impossível falar dele sem citar a banda) nasceu gaúcho, mas jamais conheci alguém com um coração tão curitibano. Em Curitiba, os roqueiros formam uma tribo com linguagem própria, tão própria que nem os roqueiros de outra cidade conseguem entendê-la sem um bom dicionário. O Ivo era o cacique e o pajé desta tribo.

No Bom Retiro - Conheci o Ivo como ele sempre foi, na dele. Fomos vizinhos por alguns anos lá nos bairros do Bom Retiro/Pilarzinho, por onde também circulava o polaco Leminski. Morei em frente à Universidade do Meio Ambiente, na época mais uma das pedreiras desativadas de Curitiba. Um bom lugar para testar as bombas fabricadas na cozinha de casa (lazer de jovens professores de química/física), embora nossos amigos gostassem mesmo de queimar outras bombas às margens do lago que por lá havia (lazer do povo que gostava de Rock). Num dos testes, com mais de meio quilo de explosivos, a mata pegou fogo. Passamos a tarde de um domingo desesperados tentando apagá-lo por óbvias razões, os bombeiros não podiam ser chamados. Bombeiros e principalmente a polícia não combinavam com aquele lugar.

A cerveja no boteco
- Em 1985/86/87, durante a semana, terminava minhas aulas no Colégio Santa Maria e rumava a pé para almoçar em casa. Invariavelmente, encontrava o Ivo subindo a ladeira de chinelos, bermuda, camiseta ou uma camisa colorida qualquer. Quase que cumprindo uma formalidade religiosa, por volta das 13h, o Ivo pegava sua sacola de feira (destas de nylon bem fajuto) e a enchia de cascos de garrafas de cerveja. Ele passava um bom tempo no botequinho (desses de vila, que vende miudezas e serve pinga no balcão). Dizem que jogava sinuca contra si mesmo.

Capeli & Stuart - O tempo passou e tornei a tropeçar com o Ivo várias vezes. Nos últimos anos, depois que o fígado dele já estava necessitando de reparos, nosso contato ficou mais frequente. Encontrávamos nos bares da vida, em especial no Capeli da Mara ou no Stuart. E foi no Stuart que, há pouco, eu o ouvi pela última vez defendendo um repertório que contava inclusive com serestas, sambinhas e até Roberto Carlos, cantadas numa afinação ímpar e interpretação maravilhosa. Ivo não era apenas um vocalista de rock. Quem teve a felicidade vê-lo e ouvi-lo sabe que ele era cantor para qualquer obra.

Blindagem
- Já ouvi algumas teses de botecos para justificar a falha do Blindagem como sucesso nacional. Dizem que a chance existiu mas forças ocultas não deixaram a banda estourar. Bom, creio que meus amigos das editorias de Cultura poderiam elucidar a história.

Quase invisível - Outro ponto a ser notado na vida deste grande músico é a relação da cidade com o artista. Ivo teve seus momentos com o Blindagem e no final da vida passou por uma grande felicidade, apresentou-se no Guaíra acompanho pela nossa orquestra sinfônica. Mas foi só isso, pois na maior parte do tempo, como qualquer outro artista curitibano, Ivo padeceu de invisibilidade. Fenômeno esse tão próprio de Curitiba e tão bem descrito pelo falecido publicitário Jamil Snege. Nos bares, ao se apresentar, alguém sempre estava vendendo seus CDs e DVDs, foi a maneira que ele encontrou para sobreviver e manter a sua arte.

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