quinta-feira, 26 de março de 2009

Soneto de Camões para hoje

Coitado! que em um tempo choro e rio;
Espero e temo, quero e aborreço;
Juntamente me alegro e entristeço;
De uma cousa confio e desconfio.

Avôo sem asas; estou cego e guio;
E no que valho mais menos mereço
Calo e dou vozes, falo e emudeço,
Nada me contradiz, e eu aporfio.

Qu'ria, se ser pudesse, o impossível;
Qu'ria poder mudar-me, e estar quêdo;
Usar de liberdade e ser cativo;

Queria que visto fôsse, e invisível;
Qu'ria desenredar-me, e mais me enredo:
Tais os extremos em que triste vivo!


Luís Vaz de Camões (1524/25? - 10/06/1580). À medida do possível, este blog estará publicando a lírica de Camões, principalmente versos poucos difundidos pela internet, caso das redondilhas, sextinas, cantigas e até mesmo sonetos, como este que apresentamos.

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