quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Líbia: em todas as etapas, uma história conturbada



Françoise Germain-Robin (l'Humanité)

Antes de atingir a independência em 1951, a Líbia fez parte de muitos impérios. O país é composto de várias províncias, incluindo Trípoli, no oeste e Cirenaica, no leste, onde a revolta começou. o nome Cirenaica deriva da antiga cidade de Cirene, que foi no século VII AC, a capital de uma colônia grega, antes próspera, foi anexada pelo Egito. Tripolitânia pertenceu ao império cartaginês, antes de ser integrada com Cirenaica ao Império Romano. No século III, os romanos foram governados por Septímio Severo que era líbio. A Líbia serviu ao Império Romano como um baluarte contra a imigração da África, mesmo papel desempenhado hoje em relação à União Européia (UE).

Conquistada pelos árabes no século VII, em seguida, em 1551 por Suleiman, o Magnífico, torna-se parte do Império Otomano até 1911, início da conquista italiana. Foi colônia da Itália até a Segunda Guerra Mundial e palco de uma batalha feroz entre as potências do Eixo - Alemanha nazista e Itália - e os Aliados. Em 1945 é compartilhada pelos vencedores da guerra: a Grã-Bretanha ficou com Tripolitânia e Cirenaica, e Fezzan para a França, no sul.

Em 1949, a ONU posicionou-se a favor da independência da Líbia. O reinado da família real Sennoussi começou em 1951 e foi encerrado pelo coronel Khadafi num golpe militar em 1969. Em 1977, ele estabelece um novo regime para Líbia, baseado em comitês revolucionários, em que se estabelecia o "governo direto das massas". Sem eleições, Muammar Kadafi proclamou-se Guia para uma revolução permanente, cujos princípios estão reflectidos no Livro Verde, encontrado à venda em todos os idiomas.

Uma das ambições de Khadafi é conseguir uma união da nação árabe. Para tal, ele fez várias tentativas - com o Egito e Síria, e com o Marrocos. Anti-imperialista, Kadafi é membro ativo da rejeição frontal de quaisquer negociações com Israel sobre a questão palestina. Um dos líderes da OPEP, ele tenta conquistar o norte do Chade e com isso se torna inimigo dos Estados Unidos que falhou na tetativa de eliminá-lo, em 1986, em Tripoli.

Depois do atentado de Lockerbie contra um Boeing da Pan Am em 1988, a Líbia foi submetida a um embargo que só terminou em 2004. Ano em que começa uma fase ativa da reconciliação com os Estados Unidos e União Europeia. A Líbia renunciou a seu programa nuclear, e estava empenhada em combater o terrorismo, e efetivando acordos que preservavam a União Europeia do fluxo de imigrantes africanos. É este o jogo que o coronel Kadafi ameaça interromper se Bruxelas continuar com as críticas contra suas práticas de repressão na atual revolta. Quarto produtor de petróleo em África, a Líbia tem realizado uma liberalização da sua economia aos investimentos estrangeiros, especialmente com a Itália, e uma aproximação espetacular com Silvio Berlusconi e... Nicolas Sarkozy.

(Tradução do artigo de Françoise Germain-Robin publicado pelo jornal francês l'Humanité).

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