terça-feira, 8 de abril de 2008

LECTIO VII


Aqui vai mais uma parte da poesia dos goliardos produzida provavelmente entre os séculos XI e XII. A tradução que apresentamos é poética e qualquer semelhança com a realidade atual não é mera coincidência. O texto em latim é cópia do original e faz parte dos manuscritos de Carmina Burana (Canções de Beuern).



MANUS FERENS – A MESMA MÃO QUE DÁ A PROPINA

manus ferens muneraa mesma mão que dá a propina

pium facit impium;faz pecar qualquer cristão,

nummus iungit federa,desavença elimina,

nummus dat consilium;a grana chama à razão,

nummus lenit aspera,os discordantes ela afina,

nummus sedat preliumao conflito dá solução.

nummus in prelatiso juízo dos prelados

est pro iure satis;depende dos ducados;

nummo locum datisjuízes, vossa sentença

vos, qui iudicatis.(...) – a grana não dispensa. (...)

Agora a tradução literal:

A MESMA MÃO QUE DÁ PROPINA

A mão trazendo presentes faz do homem piedoso um ímpio; o dinheiro resulta em alianças, o dinheiro torna-se conselheiro, o dinheiro apara as arestas, o dinheiro põe fim a guerra. O dinheiro, no tribunal dos prelados, vale tanto quanto o direito. Vocês que julgam, dão audiência ao dinheiro.


*********GOLIARDOS***********************************


Literatura medieval escrita por clérigos ou estudantes boêmios, que optavam por uma vida desregrada, licenciosa e recheada de folguedos. Tais foliões encontravam-se em Inglaterra, França e Alemanha, onde se produziu este tipo de literatura marginal. O nome por que ficaram conhecidos deve-se à devoção ao bispo Golias, de quem se diziam seguidores. Ficaram célebres goliardos como Huoh Primas of Orleans, Pierre de Blois, Gautier de Châtillon e Phillipe the Chancellor. O tema preferido das suas composições é o amor, em especial o amor que não respeita convenções sociais nem qualquer moral estabelecida, e toda a espécie de prazeres sensuais. Os seus pares não os reconheciam como verdadeiros poetas e, como parece óbvio, gozavam de pouca fama entre os trovadores da corte e os clérigos ortodoxos. Quase todas as suas composições são hinos à livre expressão sexual ou à tirania ideológica, religiosa e moral da Igreja, sem esquecer o poder papal. Gradualmente, os privilégios clericais dos goliardos foram-lhes sendo retirados, até se perder inclusive a própria designação de goliardos, o que vem a acontecer no século XIV, confundindo-se, então, o termo com designações próximas como jogral, menestrel ou segrel. A mais célebre compilação dos cânticos goliardos é os Carmina Burana, textos escritos no século XIII, na Bavária, traduzidos por John Addington Symonds com o título Wine, Women, and Song (1884).

Bib.: Ricardo Arias Y Arias: La poesía de los goliardos (1970); Ricardo Garcia-Villoslada: La poesia ritmica de los goliardos medievales (1975)




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