sexta-feira, 29 de julho de 2011

A justiça perto do povo

A professora e doutora em Sociologia Jacqueline Sinhoretto (foto) lançou o livro “A justiça perto do povo: reforma e gestão de conflitos”, que analisa a administração de conflitos a partir dos Centros de Integração da Cidadania (CIC). Este lançamento fez parte das atividades do XV Congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), que está sendo realizado na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Sinhoretto explica que os CICs, em funcionamento em alguns estados como São Paulo, estão normalmente localizados em periferias, onde diversas instituições pertencentes ao campo da justiça atendem ao mesmo tempo: polícia civil, polícia militar, promotoria, juizado e a mediação alternativa dos conflitos. Os CICs são resultantes de iniciativas de juízes, promotores e delegados comprometidos com a democratização da justiça. Eles começaram aparecer no final da década de 80 e início dos anos 90, já de olho na reforma do Judiciário, ocorrida em 2004 e que não contemplou a contento as mudanças desejadas por parcelas mais avançadas da sociedade.
“Não é só no Brasil que há essa pressão para que a justiça se abra mais, com mais democracia”, diz a autora. No caso específico dos CICs, o que se vê é uma tentativa de expandir a atuação da justiça, mais próxima do cidadão e rápida. Entretanto, a qualidade não é a mesma da justiça ordinária, justamente pela rapidez que se exige na conciliação. “Uma conclusão é que se expande o acesso à justiça, mas não se expande o estado de direito”, analisa Sinhoretto.
Sobre a autora – Jacqueline Sinhoretto é professora adjunta da Universidade Federal de São Carlos/Departamento de Sociologia. Tem experiência em Sociologia da Administração da justiça e Sociologia da Violência, atuando principalmente nos seguintes temas: administração institucional de conflitos, acesso à justiça, violência, segurança pública, sistema de justiça.
O livro - “A justiça perto do povo: reforma e gestão de conflitos”. Editora Alameda, 438 páginas, São Paulo, 2011.

Livro de sociólogo retrata a Street Art




Durante o XV Congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), realizado na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, foram lançados ou relançados vários livros e dentre eles o “Em Busca do tempo perdido” do fotógrafo e sociólogo José Angelo da Silva. Uma das particularidades desse livro é que ele possui uma edição única de apenas 200 exemplares numerados e assinados pelo autor.
As imagens clássicas associadas ao Koan (公案) e ao Satori (悟り) são, por certo, as do imaginário religioso japonês: monges de cabeças luzidias, tigelas, bastões e a atitude “tranquila e infalível” a que se refere Caetano Veloso em “Um Índio”. Nenhuma dessas imagens passa, definitivamente, pela metrópole efêmera, que não merece de seus habitantes maior atenção exatamente porque eles a vivenciam em uma pressa eterna. Pois é nesse cenário que o fotógrafo e sociólogo Angelo José da Silva (foto) descobriu e revelou uma série de possíveis Koans, apresentados em seu livro.
O núcleo da obra são imagens de Street Art – grafites, pichações, lambes, estênceis, stickers e suas combinações na cena urbana – que, ao serem capturadas, mostram uma insuspeita porção Koan. Isso porque, normalmente invisíveis, são capazes de revelar um poderoso conteúdo a quem abandona o olhar blasé. Como verdadeiro Koan-e-Satori, enfim, que não estala o chicote por um Buda entronizado, mas por uma transformadora experiência de subjetividade.
Alquimia – Se há Satori, é sinal de que o Koan foi bem-sucedido. Partindo dessa premissa, encontramos no livro muitos traços de “iluminação”. As imagens que a ilustram, afinal, são leituras e devoluções elaboradas em termos ao mesmo tempo sutis e firmes, subjetivos, algo que transparece no próprio processo de produção: inicialmente percebidas pelo olhar, depois fotografadas em filme, digitalizadas, convertidas em serigrafia e repostas no mundo como algo novo, original e precioso. Um trabalho, enfim, digno do aplauso de uma mão só.
Em Busca do Tempo Perdido, de José Angelo da Silva. Editado por Daniel Barbosa (Editora Caderno Listrado). Edição única, 88 p.Curitiba, 2010. Contato do autor: ajsilva7@gmail.com

quinta-feira, 28 de julho de 2011

"O dia em que morreu Leminski"


Na Biblioteca Pública do Paraná um autor que vai virar livro prepara sua mudança.

No dia 24 de agosto de 2011, às 17h45, no auditório Paul Garfunkel, na Biblioteca Pública do Paraná, na rua Cândido de Abreu, 133, em Curitiba, será realizada a leitura dramática do texto de Rogério Viana - "O dia em que morreu Leminski", pelos atores Val Salles (personagem Marcelo Antero), Naiara Bastos (Lílian Pedrozo) e Felipe Custódio (Demétrio Trindade), com direção de Léo Moita.


Após a leitura haverá sorteio de camisetas em homenagem ao escritor e poeta paranaense Paulo Leminski, que no dia da leitura estaria completando 67 anos. Leminski morreu, aos 44 anos, no dia 7 de junho de 1989.

Sinopse

Um escritor, numa tarde, acorda assustado em seu apartamento no meio de livros que estão sendo encaixotados para uma mudança. Ele quer transportar seus livros e levá-los para um lugar “seguro e seco”. Ao acordar, recebe a visita de um de seus personagens, ou um dos seus heterônimos, que veio ajudá-lo a embalar os livros para essa mudança. Depois que o personagem sai, entra uma personagem, outro heterônimo de alma feminina, que o provoca com lembranças de épocas em que o escritor se embebedava e assistia a freqüentes assembléias de livros em suas estantes. Os três personagens, um personagem e dois heterônimos, relembram fatos da vida do escritor que sabe que esta será sua última mudança e que, em breve, ele deixará de ser poeta para virar poesia, que deixará de ser autor para ser personagem, que vai deixar de ser escritor para transformar-se num livro.

Personagens

Demétrio Trindade - o escritor que está de mudança. Será interpretado pelo ator Felipe Custódio.

Marcelo Antero - heterônimo do escritor, outro personagem, um amigo. Val Salles fará o personagem.

Lílian Pedrozo - uma alma feminina, outro heterônimo, uma amiga e presença constante na vida do escritor. Naiara Bastos fará a personagem.


Uma fala do personagem Demétrio Trindade


(...)
Um livro de poucas páginas quando fica ao lado ou sobre um livro de muitas páginas parece que fica enciumado e começa a inchar, a inchar... Fica inflado de vontades. Quer ser um livro da pesada. Percebe? Quer ser um livro da pesada! E, quando pego ele com outros, seu peso é insuportável. Esse livrinho é insuportavelmente pesado. Parece que ganhou peso na companhia de outros com melhor conteúdo. Livros mais graves. Esses livros, que arrasto feito corrente de fantasmas ingleses, ainda vão me matar. Sei. Ainda vão me matar. Não que sejam venenos. Ou que sejam explosivos. Ou uma mortífera arma. Ou que estejam como uma imensa torre ou uma ponte prestes a desabarem. Prontos a soterrar alguém, não. Esses livros ainda vão me matar, pois são misteriosos demais para meu entendimento. Estão ainda fora do meu alcance. São desafiadores demais. Impenetráveis demais. Demais misteriosos. Ali, na prateleira – agora esparramados pelo chão – ficam me espreitando e esperando que eu os descubra, que os leia, ou releia... Que retome a leitura parada em esquecidas páginas... Esses livros ainda vão me matar, tenho certeza. Vão me matar de sede. Vão me matar de fome. Talvez me matem de tristeza. Não tenho certeza, nem tento entender se será eles mesmo eles a causa de minha morte. Esses livros vão me matar. Que isso fique bem claro. Pois com eles estabeleci um tipo de dependência, sabe... Eles são indispensáveis para mim e eu sou um possível leitor para eles. Mesmo não sendo leitor, sou um fiel depositário de tantos escritos.
(...)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sociedade Brasileira de Sociologia homenageia Luiz Werneck Viana e Nazareth Wanderley

Celi Scalon e  Luiz Werneck


A entrega do tradicional prêmio Florestan Fernandes foi o momento mais marcante da cerimônia de abertura do XV Congresso Brasileiro de Sociologia, realizada ontem no Centro de Eventos de Curitiba e que dá início ao evento de quatro dias sediado na Reitoria da Universidade Federal do Paraná. Além da medalha com a gravação do rosto do sociólogo que intitula o prêmio, criado em 2003 pela Sociedade Brasileira de Sociologia, o professor e pesquisador Luiz Werneck Viana, da PUC-Rio, recebeu uma obra de arte da gravurista paranaense Denise Roman.
Rompendo o protocolo, para evitar “o tom de comício”, o autor de livros como ”Liberalismo e Sindicato no Brasil” fez um discurso improvisado que agradou a plateia formada por professores, pesquisadores e estudantes. “Essa homenagem, no ano em que completo 72 anos, surge como mais um acidente nessa minha vida tão acidentada”, brincou, relembrando sua trajetória intelectual intimamente relacionada aos principais momentos históricos do país como o Golpe de Estado de 1964 e o processo de redemocratização.
Hoje, às 11 horas, ele realiza a conferência Sociedade, Política, Direito, em que identifica no seu percurso intelectual e político três momentos como ponto de partida para compreender como a sociedade brasileira se modernizou sob a direção de elites conservadoras e de um regime político autoritário.
Werneck ainda ressaltou a importância da Sociologia em um momento em que o país vive um crescimento econômico questionável. “Há um desejo de projeção do capitalismo brasileiro no mundo. Mas queremos entrar nesse festim? Solidariedade, fraternidade, são valores da tradição brasileira que vem sendo erodidos por essa lógica da economia. A sociedade não pode ser prisioneira de um mundo sistêmico, cuja lógica passa longe de seus valores.”
Principal referência nos estudos das questões agrárias no Brasil, a homenageada Maria Nazareth Wanderley, doutora em Sociologia pela Universidade Paris X disse ao agradecer o prêmio que é preciso incluir a experiência dos 30 milhões de brasileiros que vivem nas áreas rurais nas discussões da sociologia do trabalho, da sociologia da família, da sociologia dos movimentos sociais, da sociologia política.
“Se não podemos, nem desejamos explicar sozinhos o mundo rural, é, também, impossível amputar a parte rural das preocupações dos estudiosos da realidade brasileira”, disse a professora convidada da Universidade Federal de Pernambuco e professora aposentada da Unicamp, com diversos livros publicados sobre sociologia rural, entre eles, Capital e Propriedade Fundiária. Ela realiza conferência amanhã, às 11 horas, sob o tema A Sociologia do Mundo Rural e as Questões da Sociedade no Brasil Contemporâneo.

Destaques do Congresso de Sociologia para a tarde desta quarta-feira

ALGUNS DOS TRABALHOS QUE DEVEM SER APRESENTADOS NA TARDE DESTA QUARTA-FEIRA NO CONGRESSO DE SOCIOLOGIA, EM CURITIBA

ECONOMIA/POLÍTICA
GT04 - Consumo Solidário como forma de participação política
Holgonsi Soares Gonçalves Siqueira - Autor (UFSM); Felipe da Luz Colomé - Co-Autor (UFSM)
As Fábricas Recuperadas entre a Modalidade e a Plasticidade da Democracia
Cristiano de França Lima - Autor (FEUC/CES)
GERAL
GT05- Mulheres negras estão ausentes nos cargos de chefia - racismo institucional?           
Edilene M. Pereira - Autor (UNESP)
GT06- Microempreendedorismo associativo: Análise de empreendimentos de Coleta e Triagem de Resíduos            
Marília Veríssimo Veronese - Autor (UNISINOS) Adriane Vieira Ferrarini - Co-Autor (UNISINOS)
CULTURA
GT16- A proposição da política de cotas para negros em telenovelas brasileiras
Igor Bergamo - Autor (UFMA)
GT23- Mercado de arte erudita no Brasil: o comprador brasileiro neste mercado Daniela Stocco - Autor (UFRJ)
COMPORTAMENTO
GT19- Evangélicos Urbanos: de pedreiro a classe média emergente
Gamaliel da S. Carreiro - Autor (UFMA)
GT20- Anorexia: uma velha doença? Por uma história social da “anorexia sagrada” e “anorexia nervosa
Mayara Martins - Autor (UFC); Cristian Paiva - Co-Autor (UFC)
GT22- Internet e mercado erótico: notas sobre pornografia e controle.         
Carolina Parreiras - Autor (UNICAMP)  
VIOLÊNCIA/CIDADES
GT21- Paris e Londrina: uma análise comparativa da sociabilidade e da segregação Maria Nilza da Silva - Autor (UEL)
GT32- Morreu na contramão atrapalhando o tráfego: as vitimas em crimes de trânsito.
Andreia dos Santos - Autor (PUC Minas)
GT32- Assassinatos de Mulheres: Violência Urbana e o Femicídio?      
Luzia Azevedo - Autor (ActionAid BR)
ESPORTES
GT26- Ciclovias nas cidades sedes da copa           
Nelson Montenegro - Autor (UFRB)
GT26- Mega eventos esportivos e formação de atletas: um estudo sobre algumas configurações sociais
Carlos Luna - Autor (UFRPE); Carlos Luna - Co-Autor (UFRPE)
GT26- Os donos do futebol: genealogia e poder dos dirigentes da Federação Paranaense de Futebol
Luiz Demétrio Janz Labida - Autor (ISULPAR); Roberta Carnelos Resende - Co-Autor (UFPR)
TODOS OS GRUPOS DE TRABALHOS FUNCIONAM NO EDIFÍCIO D. PEDRO I  OU D. PEDRO II DA REITORIA DA UFPR.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Sociologia para a compreensão do mundo



Temas relacionados ao dia-a-dia de bilhões de pessoas nas cidades e no campo – da violência às questões de gênero, da religião à realidade virtual - serão debatidos na próxima semana em Curitiba por sociólogos de todo o país e do exterior. Eles participam do XV Congresso Brasileiro de Sociologia, que será realizado de 26 a 29 de julho na Reitoria da Universidade Federal do Paraná. Além dos espaços nos prédios da instituição, foi montada uma grande tenda no pátio da Reitoria para receber parte das atividades.
Com o tema “Mudanças, Permanências e Desafios Sociológicos”, o Congresso aprovou mais de mil trabalhos que foram organizados em sete conferências, 31 mesas-redondas, 32 grupos de trabalho, quatro fóruns e sete sessões especiais. De caráter internacional, o Congresso traz, além de especialistas brasileiros renomados, convidados dos Estados Unidos, México, China, Suécia, África do Sul e Grã-Bretanha. O evento terá ainda uma série de atividades paralelas como lançamentos de livros, exibição de vídeos e shows.
Esta é a primeira vez que o encontro, promovido pela Sociedade Brasileira de Sociologia, é sediado em Curitiba. Realizado inicialmente em 1954, em São Paulo, o Congresso foi suspenso por vários anos nas décadas seguintes em virtude da ditadura militar e do fechamento da entidade organizadora, a Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS). Com a reabertura da SBS, o III Congresso foi realizado em 1987, em Brasília, e, desde então, é promovido bienalmente. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, os dois principais nomes da organização do evento em Curitiba, os professores doutores José Miguel Rasia (presidente do Comitê Organizador) e Ana Luisa Sallas (secretária geral da SBS), falam da importância e das novidades da décima quinta edição do Congresso da SBS.

O Congresso, embora nacional, recebe convidados de outras partes do mundo. O que significa este intercâmbio com outras realidades para além das fronteiras do país?
Ana Luisa Sallas – Sempre houve a presença de intelectuais, de pesquisadores de fora, mas isso tem se ampliado com o próprio crescimento do Congresso. A própria complexidade da sociedade faz com que nós, pesquisadores, sejamos estimulados a procurar marcos de pesquisa comparativa em relação à América Latina, à Europa e à África, por exemplo, e pensar outras questões a partir dessa pesquisa comparativa.

O Congresso tem como tema “Mudanças, Permanências e Desafios Sociológicos”. Quais as principais linhas temáticas que surgem dessa problematização?
José Miguel Rasia – A partir do tema geral, o Congresso abriga temáticas das mais variadas, desde aquelas nascidas em áreas clássicas da Sociologia - como o estudo do rural, do urbano, o trabalho, a estratificação social e a desigualdade - até temas absolutamente contemporâneos. 
Ana Luisa Sallas – Como, por exemplo, as Sociologias da Arte, da Saúde, da Imagem e da Fotografia, assim como perspectivas que nascem de novas abordagens de temáticas contemporâneas ligadas ao gênero e à sexualidade. Há uma abordagem transversal em relação ao tema associado às perspectivas teóricas que os autores desenvolvem. Dentro da Sociologia da Juventude – ou seja, em uma única temática dentre as muitas que serão trabalhadas - os participantes vão discutir, em vários outros grupos de trabalho aspectos como os do trabalho, sexualidade, saúde, educação e meio ambiente. E, como o próprio tema geral do Congresso sugere, há um constante repensar da disciplina, de sua teoria, dos instrumentos de que ela dispõe para interpretar a realidade face às novas questões que a realidade impõe. Isso, ao mesmo tempo em que várias questões colocadas no início da Sociologia são retomadas a partir de outros olhares. O que é algo, aliás, que está muito presente aqui na UFPR, em nosso Centro de Cultura e Imagem e da América Latina. Essa proximidade com temas, questões e debates, no contexto do nosso continente. 

A incorporação de novas perspectivas teóricas para a percepção de novos problemas é, de fato, a grande mudança na Sociologia Brasileira recente?
José Miguel Rasia - Se a Sociologia faz a interpretação e a crítica da sociedade, ela também faz a crítica de si mesma. Nesse sentido, está sempre incorporando novas perspectivas, novos modelos teóricos.
Ana Luisa Sallas – George Simmel, um dos fundadores da Sociologia, dizia que a Sociologia é a ciência da modernidade, e que ela é interpelada por essa modernidade - com sua complexidade, multiplicidade de formas e conteúdos. É isso, enfim, que está na origem da disciplina.
José Miguel Rasia - A Sociologia é aquilo que Pierre Bourdieu – outro sociólogo de extrema importância - chama de uma disciplina reflexiva. Ou seja: ao mesmo tempo em que pensa a sociedade, pensa a si própria. Precisa se recriar constantemente e, ao mesmo tempo, não jogar fora aquilo que permanece, aquilo que já está em sua herança, em sua tradição sociológica.
Ana Luisa Sallas – Porque, se você vai de um pólo a outro desconhecendo essas conexões, cai em um "presentismo" constante. As pessoas às vezes necessitam dizer que estão inventando a roda quando, na verdade, ela já foi inventada. Pierre Bourdieu dizia que é preciso traçar a história social do tema que se está pesquisando, ou seja, investigar como ele surgiu como tema de reflexão sociológica. Ao mesmo tempo, é preciso buscar uma conexão com instrumentos de um contexto da sociedade contemporânea, pós-industrial e pós-moderna.
José Miguel Rasia - O que nos preocupa é que a Sociologia nunca perca sua herança e, ao mesmo tempo, não fique apenas reproduzindo essa herança. Porque, daí, ela não sai do lugar.

A que vocês atribuem a escolha da UFPR como instituição que abriga esta edição do evento?
Ana Luisa Sallas – Desde meados da década de oitenta, com a redemocratização do país, tivemos uma busca por uma maior profissionalização das Ciências Sociais e da Sociologia. O que isso significou? Que os professores foram buscar mais qualificação em cursos de mestrado e doutorado no Brasil e no exterior, e que houve todo um processo de aperfeiçoamento e produção em torno da Sociologia no ensino médio. Isso culmina, inclusive, na mobilização nos últimos anos pela introdução da Sociologia no ensino médio e no vestibular E aí, vale lembrar que, de 23 a 25 de julho, também acontece em Curitiba o II Encontro Nacional de Sociologia no Ensino Básico (Eneseb), na Pontifícia  Universidade Católica do Paraná. Pois bem: todo esse processo determinou a criação do Programa de Pós-Graduação de Sociologia da UFPR, nos anos 90, que atualmente tem conceito 5 no CNPq - um conceito de excelência. São conquistas que explicam o reconhecimento da instituição no campo da Sociologia, do avanço que a nossa universidade e, claro, que os professores do programa, todos doutores, desenvolveram ao longo das últimas três décadas.
José Miguel Rasia - Qualquer universidade que sedia um evento como o XV Congresso da SBS afirma seu nome não só no cenário nacional, mas principalmente no internacional, na medida em que participam professores, pesquisadores de universidades do mundo inteiro.
Ana Luisa Sallas – E essa é uma troca extremamente importante, porque é possível descobrir questões e perspectivas com as quais a gente ainda não havia trabalhado. É isso que faz com que ciência avance, pois surgem novas perspectivas em relação aos temas com que trabalhamos, assim como a retomada de antigos temas, que andavam esquecidos e que vão gerar publicações e trabalhos de conclusão de mestrado, doutorado e mesmo de graduação. Reforçar tudo isso em um encontro como esse, que vai reunir pelo menos duas mil pessoas do mundo inteiro, significa aprofundar essa perspectiva de um intercâmbio extremamente fecundo com os temas mais importantes da sociedade contemporânea.

O Brasil está crescendo em importância no cenário internacional. A Sociologia Brasileira acompanha esse processo? Nossa produção, nessa área, é relevante?
José Miguel Rasia - Há três grandes grupos de pensamento sociológico: as Sociologias Europeia, Americana e Brasileira. Esses são os grandes pólos da produção sociológica na atualidade. O Brasil é, certamente, o país que tem maior reconhecimento mundo afora. Tanto que o país tem participação na diretoria da Sociedade Internacional de Sociologia, o que não é pouco, porque implica no reconhecimento do que é feito no país neste campo.

De que forma trabalhos desenvolvidos por jovens pesquisadores se inserem neste Congresso?
Ana Luisa Sallas – Dentro de um espaço denominado “Sociólogos do Futuro”, criado para incentivar sociólogos ainda em formação. Na edição de 2011, o Congresso reúne 420 trabalhos aprovados desses jovens pesquisadores (dentre mais de mil inscritos) sob a forma de pôsteres que estarão em exposição nos dias do evento. Esses trabalhos serão premiados nas categorias graduandos e mestrandos após serem avaliados por uma comissão.

Serviço:
XV Congresso Brasileiro de Sociologia. De 26 a 29 de julho, na Reitoria da Universidade Federal do Paraná. Programação completa no site www.sbs2011.sbsociologia.com.br.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sociólogos também fazem arte (e da melhor qualidade)


Congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia terá vasta programação cultural

Lançamentos de livros, vídeos inéditos e shows musicais marcarão a programação cultural do XV Congresso Brasileiro de Sociologia, que acontece de 26 a 29 de julho (terça a sexta-feira) na Reitoria da Universidade Federal do Paraná. O evento, promovido pela Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) e realizado pela primeira vez em Curitiba, receberá cerca de duas mil pessoas de todo o país e do exterior. Elas participarão de sete conferências, 31 mesas redondas, 32 grupos de trabalho, quatro fóruns e sete sessões especiais.
A maior parte dos eventos culturais é gratuita e aberta ao público acontece na grande tenda que foi armada no pátio da Reitoria. Entre eles estão os shows do Trio Lamara, de música brasileira, que acontecem no dia 27 (quarta-feira) das 17 às 19 horas e no dia 29 (sexta-feira) às 12 às 14 horas, e do grupo de choro Chorodito, no dia 28 (quinta-feira) das 17 às 19 horas.
A principal atração cultural do Congresso é a Orquestra Rabecônica do Brasil, que se apresenta no dia 28 (quinta-feira), a partir das 20h30, no Teatro da Reitoria. O espetáculo “Açucena”, idealizado e dirigido por Aorélio Domingues em parceria com Mariana Zanette, na parte teatral, e Carla Zago, na parte musical, é uma opereta popular que leva ao palco a musicalidade, a fé e os hábitos caiçaras a partir da história de uma jovem que sonha com o amor. Rabecas, rabeolas, violas, percussão, rabecão e rabecona são os instrumentos confeccionados artesanalmente por Aorélio Domingues, Dênis Carvalho Lang e Rodrigo Melo para a realização do projeto, que visa inserir a arte típica do litoral paranaense no cenário cultural brasileiro.
Documentários - O comitê de avaliação do Congresso também selecionou cinco documentários brasileiros recentes e inéditos, de abordagem sociológica, para exibição aberta ao público e gratuita. No dia 27 (quarta-feira), às 18h45, três deles serão exibidos simultaneamente em salas do 3º andar do Edifício Dom Pedro II, na Reitoria. Na sala EP4, “Caminhos da Memória. Miriam Moreira Leite”, com direção de Ana Lúcia Ferraz, Andréa Barbosa e Francirosy Ferreira, traz uma biografia da antropóloga que sublinha os temas aos quais ela dedicou a sua vida: sua relação com a fotografia, o teatro, as Ciências Sociais, o casamento, o feminismo e a pesquisa imagética.
A relação afetuosa do crítico de arte Mário Pedrosa com jovens artistas de sua época, como Hélio Oiticica, Lygia Pape e Abraham Palatnik, é o tema de “Formas do Afeto: Um Filme Sobre Mário Pedrosa”, dirigido por Nina Galanternick, exibido na sala EP4. Com sensibilidade, o vídeo apresenta um viés pouco explorado de relação entre crítico e artista, ao mesmo tempo em que utiliza as potencialidades do audiovisual para representar as obras de arte dos artistas mencionados.
Na sala EP2, a produção de Clarice Peixoto, “Gisèle Omindarewa”, reconstitui a trajetória da personagem-título, uma francesa de origem burguesa que conheceu o Candomblé e se tornou uma importante mãe-de-santo. O filme narra as várias fases da vida da personagem: sua participação na resistência francesa ao lado do pai, de sua vida como mulher de diplomata na África, a sua iniciação no Candomblé nos anos 1960 e, principalmente, da sua atuação como mãe-de-santo na Baixada Fluminense.
No dia 28 (quinta-feira), na sala EP2, às 18h45, serão exibidos mais dois vídeos. Os diretores Emilio Domingos e Cavi Borges revelam um aspecto ainda pouco conhecido do tradicional bairro boêmio da Lapa, no Rio de Janeiro. “L.A.P.A.” mostra que, além de reduto de sambistas, a Lapa  também é ponto de encontro de MCs e espaço importante da cultura Hip Hop no país. Por fim, o documentário “Migrantes”, dirigido por Beto Novaes e Francisco Alves, aborda os motivos que levam jovens do Maranhão e do Piauí a trabalhar na safra de cana de açúcar em São Paulo, assim como as condições de trabalho e vida nos canaviais e cidades dormitório.
Serviço - XV Congresso Brasileiro de Sociologia, de 26 a 29 de julho (terça a sexta-feira) na Reitoria da UFPR. Cerimônia oficial de abertura, dia 26 às 17 horas, no Centro de Convenções de Curitiba.  A programação completa do evento está disponível em www.sbs2011.sbsociologia.com.br.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

UFPR sedia XV Congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia



Congresso é um dos principais eventos da Sociologia no Hemisfério Sul

A Reitoria da Universidade Federal do Paraná sedia, no período de 26 a 29 de julho (terça a sexta-feira), o XV Congresso da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS). Realizado a cada dois anos, o evento – que, nesta edição, inscreveu mais de seiscentos trabalhos de sociólogos de todo o país e do Exterior - é um dos mais importantes do Hemisfério Sul na área de estudos sociológicos.
A edição de 2011 do Congresso tem como tema “Mudanças, Permanências e Desafios Sociológicos”, e vai focalizar tanto as transformações recentes no campo das teorias e temas da Sociologia quanto as mudanças percebidas na própria sociedade nos últimos anos. Entre os temas estão violência, migrações, juventude, gênero, arte, teoria sociológica, imagem e imaginários, organização política, saúde, ruralidades, cidades e relações internações.
A discussão desses temas ocorrerá em uma série de eventos, que acontecerão em uma tenda armada no pátio da Reitoria e em salas e auditórios nos prédios da Reitoria. Nos quatro dias do Congresso serão realizadas sete conferências com convidados de universidades brasileiras e do Exterior (de países como Estados Unidos, China, México, Suécia e Grã-Bretanha), dezesseis mesas redondas, trinta e dois grupos de trabalho, três fóruns, sete sessões especiais e três minicursos, além de atividades voltadas a estudantes de graduação em Ciências Sociais (“Sociólogos do Futuro”) e atividades culturais.
Inscrições - Informações sobre inscrições podem ser obtidas no site do Congresso, o http://www.sbs2011.sbsociologia.com.br/, ou então nos dias do evento no estande da organização dentro da tenda montada no pátio da Reitoria.