quarta-feira, 23 de abril de 2008

A eleição no Paraguai por quem entende


Fernando Lugo venceu as eleições no Paraguai e pôs fim a seis décadas de hegemonia do Partido Colorado, que teve como "prócer" o general Alfredo Stroessner. Ele governou ditatorialmente durante 31 anos.

Lugo venceu apoiado numa tese: a necessidade de revisão do Tratado de Itaipu, que estabelece, entre outras coisas, a remuneração pela energia excedente do Paraguai. O Paraguai consome apenas 5% da energia produzida por itaipu. O restante é venddo ao Brasil - não pode ser comercializado com outro país - a um preço que um amplo setor paraguaio considera "aviltante".

Pois bem, esse amplo setor é comandado pelo jornal ABC Color, de Assunção, e seu proprietário, Aldo Zucolillo, que iniciaram uma cruzada pela revisão do tratado ainda durante a ditadura stroessnista.

A campanha do ABC se intensificou há dois anos. Incentivados pela linha dura adotada por Evo Morales, da Bolívia, contra a atuação da Petrobras naquele país, e que resultou na submissão da empresa e do governo brasileiros às reivindicações do presidente andino, Zucolillo e o ABC afiaram as garras contra Itaipu.

Dois anos atrás, Lugo era apenas uma hipótese de candidatura, e ele já abraçava a bandeira do ABC Color. Mas Lugo não era o candidato dos sonhos de Zucolillo, cuja predileção recaía sobre o general Lino Oviedo, então preso sob a acusação de tentar um golpe de Estado contra o presidente Juan Carlos Wasmosy, em 1996.

Vai daqui, vai dali, Oviedo obtém a comutação da pena e oficializa sua candidatura, antigo sonho dele e de Zucolilli. O empresário sempre esteve ao lado do general durante todo seu inferno astral, que incluiu a acusação de ter mandado matar o ex-vice-presidente Luis Maria Argaña e cinco anos de exílio, parte na Argentina, parte (a maior) no Brasil.

E eis que, chegado - enfim - o momento de os dois aliados levaram adiante um velho projeto, Itaipu se interpõe a eles. O general, com amplas ligações com seus colegas de farda brasileiros, não se dispôs a empunhar a bandeira hasteada por Zucolillo.

A aliança de ambos acabou aí. Mas Zucolillo não estava órfão em sua cruzada. Lugo fizera dela o principal argumento de sua campanha - e sua candidatura ia de vento em popa.

Para tentar neutralizar seu crescimento, Blanca Ovelar, a candidata colorada, pegou uma carona nessa cruzada, mas era tarde demais. A causa já havia se associado à imagem de Lugo, o bispo que o Vaticano suspendeu por causa de sua atividade política.

Deu no que deu. Lugo é o presidente, mas a vitória deve ser atribuída a Zucolillo e ao ABC Color. A primeira etapa da cruzada deles teve êxito. Eles venceram os todo-poderosos colorados, mas terão força suficiente para dobrar o governo brasileiro?

Leia mais no blog do Pedriali.

Nenhum comentário: