domingo, 28 de março de 2010

A honra em Sêneca: não puxar o saco dos poderosos

Estou colocando a leitura em ordem. Duas dezenas de livros esperam-me amontoados do lado da biblioteca. Comecei pelo mais antigo e que já havia lido na adolescência. Fininho, de poucas páginas, escritos de velhos códices latinos, nele encontro o belo texto do historiador Tácito descrevendo a heróica morte de Sêneca. Assim como havia feito morrer mãe e irmão, Nero ordenou que Aneu Sêneca morresse.

Nero o acusava de saber de uma conspiração, mas na realidade, creio que o imperador não lhe suportava a altivez, o conhecimento e principalmente, o incorruptível espírito que não se permitia o pecado da adulação. Imagina, para um imperador, que se julgava divino, não ter um filósofo, e ex-preceptor, como Sêneca, a lhe puxar o saco!

Já em adiantada idade, Sêneca cortou as veias dos braços e mandou também abrir as veias das pernas e das curvas, enquanto ditava um discurso. Sua amada esposa Paulina igualmente o acompanhou no ato, porém no último momento foi salva por ordem de Nero.

Como a agonia de Sêneca se estendia além do suportável, seu médico ministrou-lhe veneno, provavelmente cicuta, e o filósofo termina sua aflição no banho, aspergindo gotas de água e sangue em seus amigos que choravam e o assistiam: "ofereço esta libação a Júpiter Libertador".

No testamento de Sêneca, palavra alguma de adulação ao imperador, como era de costume aos que se borravam de medo da loucura de Nero, até mesmo depois de mortos.

(Ilustração:“A morte de Sêneca” - Gerrit von Honthorst).

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